30 de janeiro de 2008

Prosseguimento ao debate com a Leitora

Leitora, queria apenas saber quem estava por trás de tantos argumentos. Entretanto, uma vez claro que você não faz parte de minhas convivências, a identidade pouco importa. Vamos, pois, às idéias.
“Concordo que a beleza é sim fundamental, mas em uma escala de importância os investimentos feitos para que essa beleza reluza esta em um patamar acima dela mesma.”.
Acho que não vamos entrar em um acordo sobre a hierarquização de importâncias entre a beleza e a infra-estrutura. Teimoso, ainda fico com o argumento que já expus. Mas vou tentar te convencer por outro lado: a lógica. Ora, a razão de ser dos investimentos são as belezas naturais. Conclui-se, daí, que nada tem sentido sem elas. É claro que os investimentos para ressaltar a natureza são importantíssimos. Nisso estamos em pleno acordo. Assim como você, também acredito que o ecoturismo é uma boa alternativa para levantar um pouco a participação de lugares mais distantes do montante financeiro do turismo. Mesmo que, penso, a participação de tais locais no PIB pouco se alteraria.
“E eu preciso continuar acreditando que a nossa Constituição não é apenas um conjunto de recomendações, mas de normas de caráter imperativo e que devem ser observadas de acordo com o seu tipo.”.
A Constituição teoricamente é o conjunto de normas máximas do país. E, assim, não deveria ser ferida em hipótese alguma. Porém, lamentavelmente, muitas vezes se torna somente um punhado de diretrizes que ficam bem distantes da realidade. Só para citar mais um exemplo, o Art. 54 da Constituição proíbe parlamentares de serem donos ou possuírem vínculos com qualquer tipo de empresa concessionária de serviço público. Nesse caso, mais particularmente concessões de rádio e televisão. Bem, com isso em mente, atentemos para a seguinte reportagem (de 2006) do Estado de São Paulo:
“Nas eleições deste ano, conseguiram se reeleger 31 dos 51 deputados federais investigados sob acusação de serem donos de emissoras de rádio e TV. Onze deles ficaram entre os cinco mais votados em seus Estados. O índice de reeleição entre os proprietários de meios de comunicação eletrônicos, que atingiu 61%, foi muito superior ao geral da Câmara, de 51% - indicação de que ter emissora pode significar vantagem eleitoral.”.
Ou seja, além de comprometerem a democracia, que no Brasil existe em termos, os nossos excelentíssimos parlamentares não respeitam nem a Constituição Federal. Aqueles que elegemos para administrar a coisa pública pecam contra o conjunto máximo de normas. Nesse particular, para piorar as coisas, as concessões são vitalícias. Os excelentíssimos não irão votar contra a manutenção de seus próprios instrumentos de coronelismo eletrônico. Prefiro nem procurar mais discrepâncias entre as normas e o que se observa, pois o material seria tão farto que aqui não caberia.
Uma parte muito interessante: “... fiquei curiosa quanto a sua idéia de transformação política. De que tipo ela seria? Você ainda diz que é necessária uma mudança na mentalidade das pessoas. Concordo com você, mas me encontro sempre em um dilema sem resposta. Seria a consciência social capaz de desenvolver as áreas carentes de nossa sociedade, ou o desenvolvimento das condições materiais da vida social que alteraria o pensamento dos brasileiros, como diria Marx em seu materialismo?”.
Bom, acho que Marx nada pode fazer aqui. Para começar meu raciocínio, penso que grande parte do problema de mentalidade dos Brasileiros é histórico. Nosso atraso mental apenas reflete séculos de equívocos monumentais. De início, fomos colonizados por um país de cultura católica. Como sabemos, catolicismo e desenvolvimento econômico nunca andaram de mãos dadas. Naqueles tempos, era imperativa a posição da Igreja contra a acumulação de capital e outros assuntos mundanos em prol de uma recompensa post mortem. Temos frutos desse começo equivocado: dê uma olhada na América Latina. Ao contrário, a doutrina protestante que vigorou em alguns países europeus (muitos dos mais desenvolvidos, aliás) jamais condenou o acúmulo e gestão de capital. Isso, evidentemente, proporcionou um maior avanço da economia desses países.
Mas falava do Brasil e de mentalidade. Veja que dado curioso: durante algum tempo de família real portuguesa no Brasil, a imprensa e a publicação de livros foram proibidas. Devido a essas proibições, o Correio Braziliense – considerado o primeiro jornal brasileiro – era confeccionado na Inglaterra e mandado clandestinamente para o Brasil. Em outras palavras, o primeiro jornal brasileiro era britânico.
Leitora, é interessante, por exemplo, comparar o Brasil com os Estados Unidos. Os pais fundadores norte-americanos, entre os quais se destaca Thomas Jefferson, desde cedo já idealizaram a nação de acordo com os avançados princípios do iluminismo. No Brasil, isso não fez muito sentido. Outro tema interessante é o ensino. Aqui, a primeira universidade só foi surgir na década de 1920. Em entrevista do Jornal da Unicamp, o professor de filosofia Roberto Romano tem uma interessante opinião sobre o motivo do tardio aparecimento do ensino superior em nossas terras: “Em primeiro lugar, o fato de que a política de Portugal para as colônias foi extremamente restritiva ao desenvolvimento do saber, da técnica e sobretudo da cultura laica. Portugal foi um campeão da contra-reforma, que significou um atraso na Europa inteira...”. Nos Estados Unidos, Harvard foi fundada em 1636.
Receio que esses fatores – e possivelmente outros – contribuíram e muito para o atraso intelectual do brasileiro. Acho muito forçoso pensar que em algum determinado dia iremos acordar com sede de cultura e conhecimento e, por conseguinte, consciência social. Acredito que a única maneira do brasileiro se elevar um pouco mais é um grande investimento em educação básica. Mas isso também incorre em um problema, a dependência de nossa classe política que já demonstrou não ter interesse em um povo mais intelectualizado. Enfim, o povo tem de ser educado de maneira eficiente. É isso que vai gerar a riqueza e a mão de obra qualificada.
Quanto ao Kaká e os auto-intitulados bispos, acho que nos entendemos.

29 de janeiro de 2008

Resposta à Observadora do Passado*

"Vi que uma leitora do seu blog postou como "leitora"e resolvi fazer o mesmo...acompanhei alguns dos seus posts, inclusive este, e resolvi me pronunciar agora... na verdade, perguntar algo..Como diz o meu apelido, sou uma observadora do passado, e como tal, me recordo de que voce era uma pessoa bem cristã e ligada a Deus.. e agora voce parece estar revoltado com tudo relacionado nao so à religiao, mas tambem a Deus (pois para mim religiao e deus sao assuntos bem distintos). Gostaria de saber, pq isso aconteceu e como aconteceu, se voce nao se importar de explicar, claro!até mais!".
Olá, Observadora do Passado, tudo bom? Gostaria de entender o motivo que leva você e a Leitora escreverem sob pseudônimos. Não sou mau e não mordo, de modo que não há risco nenhum na identificação de vocês. Mas, independente de quem você seja, responderei suas questões.
Você deve me conhecer de outras épocas, pois conhece parte do meu passado. Em primeiro lugar, é um erro muito comum julgar que nós, dissidentes da religião e da fé, estamos sempre revoltados com alguma coisa. Você já deve ter lido aquele versículo que diz que se conhecermos a verdade, ela nos libertará. Cito-o, é claro, com um pingo de ironia. Ocorre que quando passamos a pesquisar e questionar as doutrinas do cristianismo, as coisas começam a tomar outras dimensões – abordo o cristianismo em específico por ser objeto de nosso papo.
Passamos a ver que o Antigo Testamento revela um deus totalmente antropomórfico e que em muito se assemelha a cultura patriarcal e autoritária dos antigos judeus. Percebemos que as narrativas descritas beiram o absurdo e que, além disso, não existem outras referências que comprovem essa série de contos. Notamos que não há nenhum tipo de provas no que diz respeito ao nascimento virginal e a ressurreição no terceiro dia de um suposto messias. Observamos ainda que o cristianismo assemelha-se bastante a outras mitologias mais antigas (como por exemplo, a divindade Mitra e Cristo).
Além disso, constatamos que o cristianismo é uma religião entre várias, que promete a punição e a redenção, como uma miríade de crenças. Avaliamos que mesmo com Paulo espalhando a nova doutrina, foi preciso que um governante romano a proclamasse religião oficial do Império para que se firmasse. Temos também os vários concílios, em que se destaca o de Nicéia. Enfim, Observadora, muitos fatores pesam. Como não sou historiador, mas apenas um curioso leitor, citei os mais elementares.
Grande abraço,
Aluízio Couto
*Referente ao post "Crianças louvam genocídio"

Réplica à Leitora

Caríssima Leitora, evidente que uma boa infra-estrutura material e também logística pode sim proporcionar um maior conforto aos turistas no que concerne às belezas naturais do Brasil. Para citar um exemplo, os bondinhos do Rio de Janeiro. Porém, insisto que a pura beleza em si é o maior sustentáculo desse tipo de turismo. Hotéis, transportes e segurança (embora esses últimos dois fatores míngüem) contribuem sim, mas o cerne do meu argumento ainda é válido.
Ora, compreensivelmente as autoridades não vão permitir que as favelas desçam e se instalem nos pontos turísticos mais relevantes das cidades. Isso não é só no Rio de Janeiro. Não consigo imaginar a prefeitura de Nova York permitindo que os habitantes do Harlem se instalem na Times Square. Esse tipo de ação é comum em qualquer lugar do mundo. Enfim, o que o Brasil faz é ceder um mínimo de estrutura aos turistas. As praias, o corcovado, o sol e as orlas cuidam do resto. Temos sorte de nosso país possuir tantas belezas naturais. Não fosse isso, o turismo aqui não vingaria.
Quanto ao ciclo apresentado por você, nada a acrescentar. O estado brasileiro nunca combateu de forma eficiente as raízes da criminalidade. Sempre tentamos remediar, e nunca prevenir. Como não tivemos um histórico de inclusão, educação e distribuição mais justa de renda, só nos resta punir. E eu não penso que isso seja a alternativa mais justa, mas é, infelizmente, o que deve ser feito de imediato para que não se perca o controle.
Caríssima, infelizmente temos de abraçar a realidade, por mais que ela seja injusta. Precisamos sim de policiamento e mecanismos de punição aos criminosos. E esse policiamento, que fique claro, não só de forma restrita aos habitantes das classes mais abastadas, mas também aos próprios moradores de bem das favelas. Infelizmente tenho de advertir que citar a Constituição Federal é cair no mar da utopia. Se enumerarmos cada item que o próprio estado fere, ficaríamos a conversar por boas horas.
O engajamento social ajuda, mas não é tudo. E não adianta colocar a culpa toda nos políticos, pois eles são uma extensão de nossa sociedade. Não devemos nem podemos tratar o povo brasileiro como pobres coitados. Nosso povo é de uma ignorância e de um conformismo ímpares. Como você já deve ter reparado, a nação só se une em época de Copa do Mundo ou quando é para escolher uma estátua como uma maravilha do mundo.
Leitora, reproduzo aqui um trecho de seu texto: “Além de ser muito mais eficaz e cômodo para nós construirmos enclaves fortificados em nossas casas e prédios com circuito interno de tv, segurança particular e portaria 24 horas do que nos engajarmos e investirmos em um projeto sério de transformação social.”.
Não dá para criticar o ato de muitas pessoas construírem verdadeiras fortalezas em suas casas. Penso que se eles possuem condições para isso, tudo bem. E, dados os índices de criminalidade no país, é também útil. Não poucos casos eu vi de pessoas que tiveram suas vidas salvas por um carro blindado ou coisa parecida. A transformação social que você levantou só será possível se acontecer uma mudança política radical nesse país. Oxalá isso ocorresse, mas dado o histórico da nossa nação, sempre é mais seguro esperar pelo pior. Além da reforma política, é preciso também uma mudança na mentalidade das pessoas, incluindo as pessoas pobres e necessitadas que muitas vezes contentam-se com algumas esmolas governamentais. Países como Alemanha e Japão já conseguiram se reerguer de situações terríveis, ao passo que o Brasil é um elefante estagnado. Nota-se, com isso, a diferença cultural.
Quanto ao dado que te apresentei de turismo de favela, é realmente assustador, mas é algo que curiosamente existe. E, embora não seja um ramo majoritário, compõe o que o Brasil Ganha em turismo.

Kaká

Leitora, o jogador Kaká tem sim o direito de doar a porcentagem de dinheiro que ele quiser a quem ele bem entender. Isso jamais foi negado e é um direito que todo cidadão tem. O seu argumento cultural é totalmente válido. Minha cara, o Kaká não está sendo acusado de nada. Será apenas interrogado por manter uma relação próxima com duas pessoas acusadas de diversos crimes. As perguntas, de acordo com reportagem da Carta Capital, seriam as seguintes: “Qual é seu grau de amizade e que relação tem com as pessoas acusadas? Os acusados costumam freqüentar a sua casa na Itália ou no Brasil? O senhor freqüenta a casa deles no Brasil ou nos Estados Unidos? Você sabe o destino que foi e que é dado ao dinheiro das suas colaborações?”.
Reproduzo abaixo as acusações contra o casal Hernandes:
Segundo a Folha de São Paulo, o Ministério Público apresentou denúncia na Justiça contra os bispos devido à criação de uma “igreja laranja” para desviar os processos destinados à Renascer em Cristo, franquia de templos propriedade dos Hernandes. O Ministério levantou que as empresas ligadas à igreja respondem por mais de 100 processos. Ainda são acusados por crimes de estelionato, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro. Nem o montante arrecadado nos dízimos se salva. O órgão afirma que o valor seria usado para pagar funcionários das empresas controladas pelos Hernandes. Diante de tantas irregularidades, a Justiça, enfim, determinou o bloqueio de bens e contas bancárias dos donos e das companhias ligadas aos religiosos.
Ora, tenho certeza que se eu tivesse algum nível de proximidade com pessoas desse calibre, também seria interrogado. Repito, o Kaká não está sendo acusado de nada. E se ele realmente não tiver nada a esconder, certamente irá contribuir com o trabalho da polícia.

27 de janeiro de 2008

Resposta à Leitora

De uma leitora que se auto-intitulou “a leitora”, recebo um extenso e bem fundamentado comentário no post “Viva o povo brasileiro”. Caríssima, antes de qualquer coisa, confesso que fiquei cheio de curiosidade em saber quem é essa misteriosa leitora desse blog tão pouco visitado. Por agora, porém, vou me concentrar mais em seus argumentos e menos em sua identidade.
“... os que os turistas buscam em nosso país é o Brasil cartão-postal, aquele que se mantém a custa da pobreza de muitos miseráveis no maior estilo "cidade de deus" e da repressão louca da violência que tentam manter nas favelas e nas periferias, quadro pintado no famigerado "tropa de elite"... claro q a violência é apenas contida e espremida nas favelas, afinal um combate inteligente jamais será feito uma vez que o filho do dono d hotel cinco estrelas não pode perder seu fornecimento, isso quando ele próprio não se torna o traficante e assim forma-se um capital d giro pra incrementar um pouco mais o PIB...”.
Jamais foi negado que uma das principais qualidades turísticas do Brasil reside justamente em suas belezas naturais, ao menos foi o que interpretei com a expressão “cartão-postal” dentro de seu texto. Não acredito que o “Brasil cartão-postal” se sustente unicamente na miséria de muitos brasileiros. Ora, a faceta bonita do Brasil se sustenta por seu próprio objeto de exploração: a beleza. Os miseráveis são fruto de descaso estatal, péssima distribuição de renda e pitadas de excesso de emigração de seus lugares de origem. A violência é contida sobretudo nas favelas por estas serem nascedouro de boa parte da bandidagem. Não podemos também negar que uma enorme parcela do contingente de criminosos que cometem delitos nos bairros das metrópoles são oriundos das favelas. Mas, evidentemente, não é honesto fechar os olhos para o outro lado: o sustento dos bandidos do tráfico tem origem nas zonas mais nobres das grandes cidades. O filho do dono do hotel, como você disse, de fato possui grande parcela nesse complexo sistema. Essa questão, inclusive, foi tratada aqui no blog. Sugiro que leia o post “Hypocrisis cannabis”, do dia 28 de setembro de 2007. Quanto ao filme “Tropa de Elite”, nada posso falar. Ainda não assisti.
Chamo atenção também para outra parte de sua argumentação: “... discordo quanto ao exótico que atrai gente pra cá... na minha opinião o exótico em questão é unicamente o dos cenários naturais paradisíacos e da banalização do sexo barato... Porque ninguém, nem turistas, políticos, empresários ou membros da sociedade civil, contempla ou deixa de contemplar a pobreza, a miséria e a guerra... porque simplesmente tudo isso não existe pra gente...”.
Ainda insisto que a pobreza atua sim, em determinado grau, como fator de atração para turistas de países desenvolvidos. Do ponto de vista deles, trata-se de uma experiência quase antropológica, como já afirmei. É como ter contato com um mundo distante e completamente diferente do visto nas capitais do velho continente. Para ilustrar, segue um trecho de reportagem do site HOST, especializado em turismo:
Atraídos por filmes, telenovelas e romances que glamurizam a vida perigosa nas comunidades cariocas, os turistas estrangeiros procuram cada vez mais conhecê-las. São em média anual 40 mil visitantes, que, nos últimos quinze anos, ao chegarem ao Rio, procuram visitar algumas das 52 favelas da zona sul da cidade, onde, do alto, podem assistir ao espetáculo de beleza natural e ainda levar no diário de bordo e na máquina fotográfica histórias diferentes para contar. O mercado conta hoje com, pelo menos, cinco agências especializadas em turismo de favela. Segundo estimativa desses agentes, o número de turistas que opta por esses roteiros cresce anualmente entre 15% e 20%.
Outro ponto interessante por você abordado: “... e é claro, a repressão é sempre mais lucrativa pros políticos e grupos de pressão compostos pro empresários da construção civil e armamentos pra erguemos presídios e "armarmos" nossa polícia...”.
Concordo em parte. Sua frase faz todo sentido e é possível que nela haja muito de verdade. Porém, uma polícia bem armada e uma boa malha penitenciária não são apenas interesses dos personagens que você citou. Chegamos a um estágio tão infeliz que tais empreendimentos se tornaram interesse de todos os cidadãos.
No tocante ao turismo sexual, penso que nós dois estamos de pleno acordo e por isso acho que não tenho mais nenhum ponto a colocar.
Caríssima, sinta-se a vontade para ler, comentar e criticar os artigos aqui postados. E se em algum dia quiser se identificar, tanto melhor, pois dessa forma poderei te chamar por algum nome.
Um grande abraço,
Aluízio Couto

21 de janeiro de 2008

Viva o povo brasileiro

Apesar de algumas belezas naturais, nunca entendi porque tantos turistas europeus visitam o Brasil. Em épocas festivas proliferam máquinas fotográficas e cabecinhas loiras. São ingênuos, vivem em civilizações mais avançadas. Por esse motivo se transformam em presas para toda sorte de pivetes, trombadinhas, desocupados e assaltantes. Morro de medo quando alguma celebridade internacional se hospeda no Rio de Janeiro. Se ela disser que pretende caminhar na praia, entro em pânico e evito ligar a televisão. Quando vai embora, descanso a cabeça no travesseiro e durmo aliviado.
Depois de certo tempo comecei a entender. Assim como os antropólogos, que se enchem de júbilo com uma tribo selvagem numa floresta qualquer, os europeus viajam para cá a fim de ver o exótico. Contemplam o espetáculo da pobreza, do jeitinho e da malandragem. 
Há mais ou menos um mês, a Agência Federal de Comércio Exterior da Alemanha publicou um guia destinado aos empresários germânicos com o nome de “Como Sobreviver no Brasil”. De acordo com a BBC, o livreto “sugere, entre outras coisas, vestir roupas simples e evitar reações bruscas durante um assalto”. Vou mais longe. Aposto que em pouco tempo os seguros de vida europeus não incluirão visitas ao Brasil em suas cláusulas de contrato.
Mesmo assim, o risco ainda parece valer a pena. Somos prodígios como ninguém na arte do turismo sexual. Boa parte do dinheiro deixado por turistas, principalmente no nordeste, deve-se a esse ramo da economia a qual somos tão eficazes. Uma prostituta em moeda barata é sempre negócio mais vantajoso. O Brasil é a solução.
Quando voltam para suas casas em Londres, Paris, Madri e Estocolmo, dividem com seus pares as experiências exóticas com um povo mal educado, mas que tem lá seus encantos. Mas no fim das contas, devem concordar com uma frase atribuída ao ex-presidente francês Charles de Gaulle. Nos anos 60, em uma visita ao Brasil, Gaulle teria dito que "Le Brésil n’est pas um pays sérieux". A frase não precisa de tradução.

12 de janeiro de 2008

Diga-me com quem andas...

E agora sobrou para Kaká. A justiça quer interrogar o craque do Milan e da Seleção Brasileira por sua, digamos, estreitíssima relação com Estevam e Sônia Hernandes, proprietários da Igreja Renascer em Cristo. A informação é da revista Carta Capital desta semana. Os Hernandes são acusados de tantas coisas, mas tantas coisas que até fica chato enumerar o prontuário, como já fiz em artigo anterior. Basta saber que não é o tipo de gente a qual você venderia algo à prestação. A reportagem também diz que o jogador doa cerca de dois milhões de reais por ano à quadrilha Renascer em Cristo. Com a bola nos pés, um gênio, mas a cabeça parece de nada servir além de sustentar o cabelo. Assim digo por não ser do feitio do craque fazer muitos gols de cabeça.

11 de janeiro de 2008

Monstro vermelho ainda assola

Alguns torcedores do Grêmio criaram no Orkut torcida organizada com raízes na ideologia nazista. O nome do grupo, “Camisa 88 Gremista”, onde o número 8 é a oitava letra do alfabeto, é uma forma de mascarar a saudação nazista “Hail Hitler” (HH).
A comunidade provavelmente será fechada em breve. Mas ponho-me a perguntar: uma torcida de inspiração comunista geraria a mesma reprovação? A julgar pelo número de Guevaras estampados em bandeiras nos estádios, não.
Ora, parece que matar por ideologismos, como faziam os burocratas comunistas a seus desobedientes, é tolerável. Matar por motivos raciais, como fez Hitler, já não pode. Se os nazistas tinham em mente a prática de uma limpeza étnica, por assim dizer, os comunistas lograram uma limpeza ideológica. Matar é matar. Hitler foi um dos maiores demônios do século passado. Mas passa da hora de enxergar que a foice e o martelo estão também repletos de sangue.
Abaixo os números do comunismo:
URSS - 20 milhões de mortos
China - 65 milhões de mortos
Vietnam - 1 milhão de mortos
Coréia do Norte - 2 milhões de mortos
Cambodja - 2 milhões de mortos
Europa do Leste - 1 milhão de mortos
América Latina - 150 mil mortos
África - 1,7 milhão de mortos
Afeganistão - 1,5 milhão de mortos
Movimento comunista internacional e partidos comunistas no poder - uma dezena de milhares de mortos.

Fonte: "Le Livre noir du communisme", Stéphane Courtois et allia.