30 de agosto de 2007

Vossas excrescências

Segue o diálogo amistoso entre os senadores Tasso Jereissati (PSDB–CE) e Almeida Lima (PMDB–SE) ao discutirem sobre a votação do processo contra o senador Renan Calheiros (PMDB–AL). As falas foram veiculadas pela Folha Online.

Jereissati: “Vossa Excelência veio aqui só para perturbar esse evento. Veio aqui para fazer palhaçada. Vossa Excelência é um palhaço, está vendido” – disse batendo na mesa.

Lima: “Se Vossa Excelência sabe bater, eu também sei. A tentativa de castrar a minha palavra para ler o relatório de cinco laudas, eu não vou aceitar”.

Jereissati: “Calma, boneca”.

Lima: “Eu não imagino que Vossa Excelência tenha esse trejeito” – em tom irônico.

Segundo a reportagem, os dois senadores quase incorreram em confronto físico, que só não aconteceu graças a intervenção de outros parlamentares.

Não sei se é o caso do Senado Federal, mas várias casas legislativas do Brasil adotam como obrigatório o uso da expressão “vossa excelência” como vocativo entre parlamentares. O interessante é ver como a expressão soa falsa e demagoga. Como muitas coisas na Casa, fica parecendo que até as brigas são de mentirinha. Ou será que é tudo de mentirinha? FCH uma vez disse que “senador é só pose, quem manda mesmo é deputado”.

Eis nosso legislativo.

29 de agosto de 2007

Oportunismo editorial

De quando em quando, o mercado livreiro é balançado por algum fenômeno de vendas. É sempre avassalador: a obra é exposta nos locais mais visíveis das lojas, fica em evidência em milhares feiras de livros e, quase sempre, o autor – agora celebridade - é entrevistado por vários veículos. Um frenesi. O passo seguinte é o dilúvio. Surgem vários “entendidos” do tema de sucesso derramando suas teorias e conjecturas a um público sedento. Por vezes, a obra original é somente uma mera trama bem elaborada. Em outros casos, é uma tremenda bobagem vendida como verdade. Não importa, uma vez alçada ao sucesso, torna-se tesouro para os oportunistas.

Em 2003, o escritor norte-americano Dan Brown resolveu misturar algumas hipóteses históricas discutíveis com um enredo de ação. Apesar da formula não ser das mais inovadoras, foi assim o nascimento de um dos maiores bestsellers da história. O "Código da Vinci" vendeu mais de 40 milhões de cópias em todo o mundo e foi traduzido para mais de quatro dezenas de línguas. A polêmica foi o motor do sucesso. No livro, Brown ventila de maneira convincente Jesus Cristo como um homem comum e, pior, apaixonado por Maria Madalena. A Igreja Católica de Roma é posta na obra como omissora dos supostos fatos. Em reação ao que julgou ser uma monumental heresia, a Igreja fez luz ao Index Librorum Prohibitorum e tentou vetar de seus fiéis a leitura.

Com o borbulhar de inúmeras teorias da conspiração, surgiram os oportunistas. Na esteira do lançamento do Código, o mercado das letras se infestou por uma miríade de obras que pegam carona no romance do escritor. Após busca simples no site da livraria Saraiva por “Código da Vinci”, o resultado apontou cerca de 20 títulos diferentes do original. "Mistérios e Vibrações do Código da Vinci - As Energias da última Ceia" e "Alquimia do Amor - Reflexos Sobre o Código da Vinci e a Ascensão do Feminino" são os mais curiosos. Excluindo o exótico, notam-se vários livros cuja intenção é destruir os argumentos de Brown. “Desmascarando o Código da Vinci”, “A Verdade por trás do Código da Vinci”, “A Fraude do Código da Vinci” e alguns outros se prestam ao papel.

Atualmente, a febre que ocupa lugar de destaque nas prateleiras de livrarias do mundo todo é “O Segredo”, da australiana Rhonda Byrne. O principal argumento da autora é a chamada “lei da atração”. De acordo com a tal lei, pensar de maneira positiva atrai resultados também positivos. Para convencer, Rhonda usa em sua típica auto-ajuda argumentos espúrios decorados com vocabulário científico. “Em termos simples: toda energia vibra numa freqüência; por ser energia, você também vibra numa freqüência, e o que determina sua freqüência de vibração a qualquer momento é o que você pensa e sente. (...) Ao se concentrar no que deseja, você muda a vibração dos átomos daquela coisa, fazendo-a vibrar para você”, diz a escritora. Um sonoro logro. Não consta na ciência nada que faça menção à mente humana como irradiadora de pensamentos. A extravagante idéia de alterar átomos externos com a força mental também soa absurda.

Fraude segue fraude. O escritor Michael J. Losier embarcou no sucesso de Rhonda e infligiu as prateleiras com “A Lei da Atração – O Segredo Colocado em Prática”. Querendo enfiar o conceito de Deus nessa história, Ed Gungor lançou “Muito Além do Segredo”. Confuso? Bastante. Para piorar, na mesma busca, ao digitar “lei da atração”, é possível encontrar mais quatro títulos. “Pensamento positivo” registra 18 ocorrências.

É uma espécie de efeito manada. Alguém coloca o assunto em evidência e um sem número de espertalhões vai atrás querendo uma parte do bolo. No caso de Dan Brown, levaram muito a sério um mero romance que utiliza desconexamente fagulhas históricas como retórica para convencer o leitor. Legítimo. Trata-se de um romance. E romances são estórias. Sobre a obra de Rhonda Byrne, além do óbvio interesse mercadológico, vigora a ânsia de se manter a patifaria que encontra suporte na credulidade alheia.

Esperança que persiste

Veiculou a Folha Online ontem (28): "Após mais de 30 horas, o STF (Supremo Tribunal Federal) encerrou nesta terça-feira o julgamento das denúncias contra os 40 acusados de envolvimento com o mensalão. Todos os denunciados foram transformados em réus. Entre eles estão os ex-ministros José Dirceu (Casa Civil) Luiz Gushiken (Comunicação do Governo) e Anderson Adauto (Transportes), o empresário Marcos Valério, os deputados João Paulo Cunha (PT-SP) e José Genoino (PT-SP), além do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), autor das denúncias do mensalão".
Após ler a notícia, o otimismo aumenta um pouco. Caso os agora réus sejam realmente punidos pelo que cometeram, será um acontecimento histórico. Janer Cristaldo cita em seu blog uma informação interessante publicada pelo Terra. Se condenados por todos os crimes em pena máxima, José Dirceu e Marcos Valério pegarão penas, respectivamente, de 75 e impressionantes 1.131 anos.
É pedir muito. Num país onde alguém que assassina seus pais pleiteia a herança e ainda dispõe da possibilidade de cumprir apenas parte da pena, é de se esperar que corruptos saiam impunes.
Bom, é aguardar e ver o que acontece. Que o Supremo Tribunal Federal faça o que lhe é designado a fazer: justiça.

27 de agosto de 2007

Ode ao obscurantismo

E eu pensando que no Brasil, apesar de tanto charlatanismo e vigarice, ainda haviam limites para o fanatismo religioso. Ledo engano. Encontrei na rede o endereço da igreja Assembléia de Deus dos Últimos Dias. Em princípio, pensei ser mais uma das neo-pentecostais de influência norte-americana que infestam o país. Ao olhar a página com mais cuidado, o que se vê é a plena demonstração da ignorância; uma solene negação da própria individualidade em prol das insanidades de um pastor lunático. Abaixo, resolvi listar algumas das doutrinas mais insanas da seita.

NÃO TER IMAGENS – Qualquer tipo de seres criados por Deus, como: pessoas, vegetais, animais e flores, seres estrelares e aquáticos. Êxodo cap. 20 vers.4. “ A Bíblia relata que quando Deus criou os céus e a terra, não os criou para ficarem vazios, mas sim para que fossem habitados(Isaías cap.45 vers. 8), ou seja, tudo que Deus fez é um templo de vida. A cópia de um ser criado por Deus, torna-se morada de espíritos imundos, ministradores do mal, trazendo grandes malefícios, tais como: dissensões no lar, enfermidades, improsperidade e etc. Isto se deve ao fato de que podemos copiar, mas não temos poder de dar a vida.

NÃO TER OU NÃO ASSISTIR TELEVISÃO – Sabemos que hoje a televisão é um dos maiores meios de comunicação que temos, porém destrói vidas, tanto crentes quanto não crentes. Pois vemos que através dela somos cercados de mentiras e heresias, por exemplo: ela ensina o casal a trair, os jovens se viciarem, as crianças a serem desobedientes a seus pais, ao adolescente achar que já é dono de seu nariz, ao homem seguir após outros deuses e não ao verdadeiro Deus, ao homem e a mulher trocarem de sexo, o desejo e ação de matar e a homens corretos serem corruptos. Por isso não assistimos. Claro que usamos a televisão par alcançar vidas, mas não nos contaminamos com a tal.

NÃO TER HÁBITO DE LER JORNAIS OU REVISTAS - Devido o trabalho que efetuamos, através dos egressos do Sistema Penitenciário, a mídia Escrita está sempre nos procurando para saber mais do que desenvolvemos junto aos encarcerados. Sendo assim usamos os jornais e as revistas, quando há algo a respeito das causas de Cristo.

NÃO BEBER COCA-COLA: Motivos: não conhecermos sua procedência nem seus ingredientes. E estão cientificamente comprovados os seus muitos malefícios a saúde e revelado por Deus.I Co 3:16-18. Desde de 1990 que não ingerimos tal bebida, e há pouco tempo ouvimos rumores sobre um informe da Polícia Federal que ela contém uma droga prejudicial ao homem.

NÃO USAR CORES PRETA E VERMELHA: Seja em objetos, roupas, calçados e etc. Essas são cores usadas para identificação satânicas. Relata o cavalo vermelho que veio tirar a paz da Terra e matar os homens e o preto como juiz (somos conhecedores que não temos esta autoridade: de sermos juizes).

NÃO CRIAR ANIMAIS: Seja cachorro, gato, periquito, papagaio, peixes..., qualquer espécie ou tipo de bichinhos de estimação(pelúcia). Isto se dá aos animais serem seres irracionais, incapazes de se defenderem de ataques de espíritos malignos, trazendo males como enfermidades, dissensão, improsperidades e etc. Em Mc cap. 5 vimos um exemplo disto, onde os porcos não foram capazes de se defenderem dos demônios.

NÃO TER PLANTAS: Lembramos que as plantas também possuem vida. Em salmos cap. 148 vers 9, diz que os outeiros e árvores frutíferas louvam ao Senhor. Por isso não podemos tê-las presas em vasos. Pois também há possibilidade dos espíritos maus se esconderem nas tais, como nos animais.

CONFESSAR SEMPRE QUE PECAR - I Jo 1:8-10 / Tg 5:16 / Pv 28:13: Procurar o ministério da igreja ou seu dirigente, expondo tudo que tenha feito contrário as leis de Deus ou da igreja, sejam por palavras, pensamentos, atos, obras, sentimentos...Sem ocultar qualquer fato ou ação.

Quando o assunto é o sexo feminino, reduzem-no a quase nada. Cabe a mulher exercer apenas funções servis como dona e casa e, claro, depósito de esperma de seu respectivo varão. Lembro que o uso de anticoncepcionais é proibido. Assim, se tiver 10 filhos, tanto melhor. A fertilidade é uma graça divina. É claro, o pastor não vai ajudar a bancar as crias. Quanto às roupas, o universo não é lá muito diversificado. Só é permitido o uso do roupão (foto no início do texto). Também cabe a mulher ser "obediente, dependente, rendida a vontade de outro, conformada".

A maioria das fundamentações que sustentam as proibições são retiradas do Antigo Testamento. Temos aí, evidentemente, um problema de coerência. As doutrinas consideram válidas algumas regras lá escritas e ignoram outras. (apedrejamento, escravidão, violência etc). Ora, quem é o árbitro que determina o que pode e o que não pode ser resgatado do AT? Por que algumas regras persistem e outras não? Por qual motivo são mais válidas que outras? Enfim, não espero respostas convincentes.

23 de agosto de 2007

Otimismo contra evidências

Diz assim o jornalista Alberto Dines, editor do Observatório da Imprensa em artigo recente: “Qualquer que seja a decisão final do Supremo Tribunal Federal na sexta ou eventualmente na segunda-feira (27/8), o julgamento iniciado na quarta já está cumprindo com uma importante função cívica: rememora com minúcias o maior escândalo político brasileiro de todos os tempos e que, dois anos depois de revelado, parecia completamente esquecido”.

Concordo com Dines. Saber da possibilidade dos mensaleiros serem julgados pelos crimes cometidos é bom, mesmo que, para tanto, estejam representados em júri por advogados. De qualquer forma, ajuda a ter um lampejo de esperança. Mas é necessário cautela. O Supremo ainda vai decidir se aceita ou não as acusações feitas aos 40 mensaleiros pelo Procurador Geral da República, Antônio Fernando de Souza. Caso aceite, aí sim, existirá uma ação formal contra os acusados.

Nada para se animar demais. É sempre recorrente lembrar que o Brasil faz jus a fama de país da impunidade. Segundo levantamento da Associação de Magistrados Brasileiros, em 19 anos, de 130 processos iniciados no STF, seis foram julgados e não houve nenhuma condenação. Além da falta de estrutura do órgão, o foro privilegiado, aberração jurídica desfrutada por vários engravatados do poder, alimenta essa situação. Aliás, tal desmando é um absurdo por si só. Contradiz a Constituição Federal, em seu art. 5º, sobre a igualdade de todos perante a lei.

Se o Judiciário é inoperante, o Legislativo, então, nem é bom citar. Todos conhecem as fanfarronices que são as comissões parlamentares de inquérito e os tais conselhos de ética. Esta última, coitada, bate desesperada na porta do Congresso. No caso do mesmo mensalão, há 2 anos, dos 19 deputados acusados, a Câmara absolveu 12.

Como se vê, ainda é muita utopia pedir justiça no Brasil. No entanto, mesmo com todas as evidências apontando para esse possível julgamento terminar em pizza, não vou achincalhar. Como Dines, tentarei ser otimista.

O texto de Alberto Dines pode ser lido na íntegra no endereço http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=447JDB009

21 de agosto de 2007

Para ver o sol "renascer" quadrado

A justiça brasileira tarda. A americana não falha. Auto-intitulados bispos, Estevam Hernandes Filho e sua mulher, Sônia Haddad Moraes Hernandes, tiveram prisão decretada no estado da Flórida por entrarem nos Estados Unidos com 56 mil dólares não declarados. O juiz que proferiu a sentença não se comoveu com o choro, ranger de dentes e pedidos de misericórdia. Impôs aos vigaristas 140 dias de reclusão, cinco meses de prisão domiciliar e mais dois anos de liberdade condicional.

O histórico do casal no Brasil é mais nebuloso. Segundo a Folha de São Paulo, o Ministério Público apresentou denúncia na Justiça contra os bispos devido à criação de uma “igreja laranja” para desviar os processos destinados à Renascer em Cristo, franquia de templos propriedade dos Hernandes. O Ministério levantou que as empresas ligadas à igreja respondem por mais de 100 processos.

Ainda são acusados por crimes de estelionato, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro. Nem o montante arrecadado nos dízimos se salva. O órgão afirma que o valor seria usado para pagar funcionários das empresas controladas pelos Hernandes. Diante de tantas irregularidades, a Justiça, enfim, determinou o bloqueio de bens e contas bancárias dos donos e das companhias ligadas aos religiosos.

O epísódio também é útil para confirmar um prognóstico que todos já sabem: a ineficiência do judiciário brasileiro. Uma pequena comparação: aqui, nem anos de investigações e várias acusações conseguiram pôr o casal atrás das grades. Lá, onde o buraco é mais embaixo, bastou dar o calote na alfândega para em alguns meses amargarem o xadrez. No Brasil, é uma festa de liminares. Assim mesmo, uma concedida após outra, e outra. Em uma dessas, o casal de golpistas conseguiu revogar o pedido de prisão preventiva e mandou-se para os Estados Unidos. Só não contavam com um reles detalhe: naquelas terras o crime não compensa.

16 de agosto de 2007

Enquanto isso na Câmara...

Leio no Correio Braziliense de ontem (15) decisão da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados que prorroga até 2011 a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), taxa de 0,38% cobrada de movimentações bancárias. Seria apenas mais uma decisão da máquina burocrata estatal não fosse um motivo: a “contribuição provisória” já vigora há 10 anos e pela lei não deveria passar de 2007.

O imposto foi criado em 1993 para ajudar no financiamento do setor de saúde no país. No ano de 1997, tendo como base a lei Lei nº 9.311, passou a valer. Em reportagem do Jornal Nacional também de ontem, o deputado governista Beto Albuquerque, do PSB gaúcho, defende a taxa: "não se pode brincar com a estrutura da receita, temos muitos deveres e obrigações para fazer". A arrecadação, de fato, não é pouca, segundo apurou a reportagem, só neste ano deve ser em torno de 36 bilhões de reais.

O que o excelentíssimo deputado esquece é que quando a mão grande no dinheiro púbico acabar, a CPMF não mais será necessária. Segundo estudo do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), 32% de toda a arrecadação tributária brasileira sofre desvio e vai parar sabe-se lá onde. A entidade calcula que só no ano de 2005, a União arrecadou 732,8 bilhões de reais e que desse montante, 234,5 bilhões foram abocanhados pela corrupção.

A quantidade de impostos absurda que o cidadão é submetido a pagar, portanto, não faz sentido algum. O presidente do IPTB, Gilberto Luiz do Amaral, estima que de cada 1000 reais ganhos pelo brasileiro, 364 vão para o governo em forma de impostos. Dessa forma, trabalhamos 4 meses durante o ano só para acertar-mos com o Estado. A CPMF é só uma entre várias excrescências tributárias pagas para tentar cobrir o buraco causado por ladravazes engravatados que infestam os poderes.