29 de agosto de 2007

Oportunismo editorial

De quando em quando, o mercado livreiro é balançado por algum fenômeno de vendas. É sempre avassalador: a obra é exposta nos locais mais visíveis das lojas, fica em evidência em milhares feiras de livros e, quase sempre, o autor – agora celebridade - é entrevistado por vários veículos. Um frenesi. O passo seguinte é o dilúvio. Surgem vários “entendidos” do tema de sucesso derramando suas teorias e conjecturas a um público sedento. Por vezes, a obra original é somente uma mera trama bem elaborada. Em outros casos, é uma tremenda bobagem vendida como verdade. Não importa, uma vez alçada ao sucesso, torna-se tesouro para os oportunistas.

Em 2003, o escritor norte-americano Dan Brown resolveu misturar algumas hipóteses históricas discutíveis com um enredo de ação. Apesar da formula não ser das mais inovadoras, foi assim o nascimento de um dos maiores bestsellers da história. O "Código da Vinci" vendeu mais de 40 milhões de cópias em todo o mundo e foi traduzido para mais de quatro dezenas de línguas. A polêmica foi o motor do sucesso. No livro, Brown ventila de maneira convincente Jesus Cristo como um homem comum e, pior, apaixonado por Maria Madalena. A Igreja Católica de Roma é posta na obra como omissora dos supostos fatos. Em reação ao que julgou ser uma monumental heresia, a Igreja fez luz ao Index Librorum Prohibitorum e tentou vetar de seus fiéis a leitura.

Com o borbulhar de inúmeras teorias da conspiração, surgiram os oportunistas. Na esteira do lançamento do Código, o mercado das letras se infestou por uma miríade de obras que pegam carona no romance do escritor. Após busca simples no site da livraria Saraiva por “Código da Vinci”, o resultado apontou cerca de 20 títulos diferentes do original. "Mistérios e Vibrações do Código da Vinci - As Energias da última Ceia" e "Alquimia do Amor - Reflexos Sobre o Código da Vinci e a Ascensão do Feminino" são os mais curiosos. Excluindo o exótico, notam-se vários livros cuja intenção é destruir os argumentos de Brown. “Desmascarando o Código da Vinci”, “A Verdade por trás do Código da Vinci”, “A Fraude do Código da Vinci” e alguns outros se prestam ao papel.

Atualmente, a febre que ocupa lugar de destaque nas prateleiras de livrarias do mundo todo é “O Segredo”, da australiana Rhonda Byrne. O principal argumento da autora é a chamada “lei da atração”. De acordo com a tal lei, pensar de maneira positiva atrai resultados também positivos. Para convencer, Rhonda usa em sua típica auto-ajuda argumentos espúrios decorados com vocabulário científico. “Em termos simples: toda energia vibra numa freqüência; por ser energia, você também vibra numa freqüência, e o que determina sua freqüência de vibração a qualquer momento é o que você pensa e sente. (...) Ao se concentrar no que deseja, você muda a vibração dos átomos daquela coisa, fazendo-a vibrar para você”, diz a escritora. Um sonoro logro. Não consta na ciência nada que faça menção à mente humana como irradiadora de pensamentos. A extravagante idéia de alterar átomos externos com a força mental também soa absurda.

Fraude segue fraude. O escritor Michael J. Losier embarcou no sucesso de Rhonda e infligiu as prateleiras com “A Lei da Atração – O Segredo Colocado em Prática”. Querendo enfiar o conceito de Deus nessa história, Ed Gungor lançou “Muito Além do Segredo”. Confuso? Bastante. Para piorar, na mesma busca, ao digitar “lei da atração”, é possível encontrar mais quatro títulos. “Pensamento positivo” registra 18 ocorrências.

É uma espécie de efeito manada. Alguém coloca o assunto em evidência e um sem número de espertalhões vai atrás querendo uma parte do bolo. No caso de Dan Brown, levaram muito a sério um mero romance que utiliza desconexamente fagulhas históricas como retórica para convencer o leitor. Legítimo. Trata-se de um romance. E romances são estórias. Sobre a obra de Rhonda Byrne, além do óbvio interesse mercadológico, vigora a ânsia de se manter a patifaria que encontra suporte na credulidade alheia.

3 comentários:

Anônimo disse...

Mô, calma... não é uma questão de fraude, é auto-ajuda...
Por mais absurdo que possa soar para algumas pessoas, para outras traz um resultado até bom. Eu não acho que pensar vai me trazer o que penso, mas qdo vi o documentário me toquei que estava sendo, no mínimo, uma pessoa mto chata (e vc sabe como sou boa nisso), que um pouquinho de pensamento positivo poderia até não me trazer o meu carro, mas poderia deixar meu dia mais leve.
Acho que é por aí.

Anônimo disse...

Oi, mozin...

Sim, pensamento positivo deixa o dia mais leve. Isso eu não duvido, não. Talvez seria mais honesto a autora dizer exatamente o que você disse e não vender como uma teoria científica, como as frases dela mostram.

Dizer que pensamento positivo é bom é uma coisa. Dizer que o pensamento positivo influi em comportamente de átomos externos é fraude.

No resto, concordo com você. Pensamento positivo faz bem e traz vontade para realizar as coisas.

Samuel Barbi disse...

Vibrações de átomos...
bahhh!!!
iauhiuhaiuhiuaha...

Primeiro, deveríamos nos perguntar o que é uma teoria científica... após um curso de metodologia, fica claro que isso não é ciência nem aqui, nem na China!

Pensamento positivo é bom, te livra de depressão... mas é só isso!