23 de agosto de 2007

Otimismo contra evidências

Diz assim o jornalista Alberto Dines, editor do Observatório da Imprensa em artigo recente: “Qualquer que seja a decisão final do Supremo Tribunal Federal na sexta ou eventualmente na segunda-feira (27/8), o julgamento iniciado na quarta já está cumprindo com uma importante função cívica: rememora com minúcias o maior escândalo político brasileiro de todos os tempos e que, dois anos depois de revelado, parecia completamente esquecido”.

Concordo com Dines. Saber da possibilidade dos mensaleiros serem julgados pelos crimes cometidos é bom, mesmo que, para tanto, estejam representados em júri por advogados. De qualquer forma, ajuda a ter um lampejo de esperança. Mas é necessário cautela. O Supremo ainda vai decidir se aceita ou não as acusações feitas aos 40 mensaleiros pelo Procurador Geral da República, Antônio Fernando de Souza. Caso aceite, aí sim, existirá uma ação formal contra os acusados.

Nada para se animar demais. É sempre recorrente lembrar que o Brasil faz jus a fama de país da impunidade. Segundo levantamento da Associação de Magistrados Brasileiros, em 19 anos, de 130 processos iniciados no STF, seis foram julgados e não houve nenhuma condenação. Além da falta de estrutura do órgão, o foro privilegiado, aberração jurídica desfrutada por vários engravatados do poder, alimenta essa situação. Aliás, tal desmando é um absurdo por si só. Contradiz a Constituição Federal, em seu art. 5º, sobre a igualdade de todos perante a lei.

Se o Judiciário é inoperante, o Legislativo, então, nem é bom citar. Todos conhecem as fanfarronices que são as comissões parlamentares de inquérito e os tais conselhos de ética. Esta última, coitada, bate desesperada na porta do Congresso. No caso do mesmo mensalão, há 2 anos, dos 19 deputados acusados, a Câmara absolveu 12.

Como se vê, ainda é muita utopia pedir justiça no Brasil. No entanto, mesmo com todas as evidências apontando para esse possível julgamento terminar em pizza, não vou achincalhar. Como Dines, tentarei ser otimista.

O texto de Alberto Dines pode ser lido na íntegra no endereço http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=447JDB009

4 comentários:

Samuel Barbi disse...

Parte1 - Meu caro, otimismo não basta. O que é necessário ao Brasil é uma reforma constitucional, uma reforma política, uma reforma no ideário do povo. Impunidade é algo recorrente, não apenas na política brasileira, como também nas demais áreas do nosso país. O brasileiro e o seu famoso "jeitinho" sempre andam de mãos dadas, mesmo que esse "jeitinho" não deixe de ser um ato criminoso. Um exemplo básico disso... Na escola, o aluno louvado não é aquele que se esforçou, estudou e por isso tirou uma boa nota. O aluno louvado é aquele que não fez nada e, ainda sim, conseguiu passar de ano. Isso é transportado para todos os ramos da vida, dinheiro fácil e rápido, por vezes, se torna mais honorífico do que o dinheiro suado... o empresário que não arca com a carga tributária é mais honrado que aquele que tenta cumprir suas obrigações. O Brasil vive o fruto de sua mentalidade. Enquanto essa mentalidade não for suprimida e alterada, absorvendo ideais relacionados à eficiência produtiva, em si, a meritocracia comum nos países (cotinua)

Samuel Barbi disse...

Parte 2 - anglo-saxões e asiáticos, dificilmente o Brasil será um país capaz de erradicar a corrupção e a imoralidade. Investimento maciço em educação BÁSICA/FUNDAMENTAL é a única perspectiva capaz de nos salvar da bancarrôta ética. Devemos nos espelhar em casos atuais e palpáveis, tais como o sul-coreano e japonês. O que quero dizer é que não se trata de "otimismo contra evidências", mas sim de "evidências contra otimismo". Não que devamos nos render a um lamento niilista da

Samuel Barbi disse...

Parte 3 - realidade, entretanto, trata-se de batalhar contra um ideário vigente e, tentar contruir a história de forma a se desviar dessas tendências teleológicas a que estariamos sujeitos. O trabalho, a batalha política, a luta em busca de educação para o povo brasileiro deve ser a pauta principal. Devemos ter em mente que o Brasil, tal como é hoje, deverá se manter até a chegada de novas gerações com uma diferente formação. Cabe a nós ensinar essas novas gerações a não ser como as antigas. Isso me faz pensar em ser um "evidencialista", e tratar as evidências com a razão e a força com que devem ser tratadas. A chave é não apenas esperar, mas fazer, se envolver.

Anônimo disse...

Samuca, meu caro, nada a acrescentar. Teu comentário fala por si.