21 de janeiro de 2008

Viva o povo brasileiro

Apesar de algumas belezas naturais, nunca entendi porque tantos turistas europeus visitam o Brasil. Em épocas festivas proliferam máquinas fotográficas e cabecinhas loiras. São ingênuos, vivem em civilizações mais avançadas. Por esse motivo se transformam em presas para toda sorte de pivetes, trombadinhas, desocupados e assaltantes. Morro de medo quando alguma celebridade internacional se hospeda no Rio de Janeiro. Se ela disser que pretende caminhar na praia, entro em pânico e evito ligar a televisão. Quando vai embora, descanso a cabeça no travesseiro e durmo aliviado.
Depois de certo tempo comecei a entender. Assim como os antropólogos, que se enchem de júbilo com uma tribo selvagem numa floresta qualquer, os europeus viajam para cá a fim de ver o exótico. Contemplam o espetáculo da pobreza, do jeitinho e da malandragem. 
Há mais ou menos um mês, a Agência Federal de Comércio Exterior da Alemanha publicou um guia destinado aos empresários germânicos com o nome de “Como Sobreviver no Brasil”. De acordo com a BBC, o livreto “sugere, entre outras coisas, vestir roupas simples e evitar reações bruscas durante um assalto”. Vou mais longe. Aposto que em pouco tempo os seguros de vida europeus não incluirão visitas ao Brasil em suas cláusulas de contrato.
Mesmo assim, o risco ainda parece valer a pena. Somos prodígios como ninguém na arte do turismo sexual. Boa parte do dinheiro deixado por turistas, principalmente no nordeste, deve-se a esse ramo da economia a qual somos tão eficazes. Uma prostituta em moeda barata é sempre negócio mais vantajoso. O Brasil é a solução.
Quando voltam para suas casas em Londres, Paris, Madri e Estocolmo, dividem com seus pares as experiências exóticas com um povo mal educado, mas que tem lá seus encantos. Mas no fim das contas, devem concordar com uma frase atribuída ao ex-presidente francês Charles de Gaulle. Nos anos 60, em uma visita ao Brasil, Gaulle teria dito que "Le Brésil n’est pas um pays sérieux". A frase não precisa de tradução.

Um comentário:

Anônimo disse...

Interessante a perspactiva usada na abordagem da questão... acho q você só se esqueceu de mencionar q vivemos em um Brasil com muitas caras! os que os turistas buscam em nosso país é o Brasil cartão-postal, aquele que se mantém a custa da pobreza de muitos miseráveis no maior estilo "cidade de deus" e da repressão louca da violência que tentam manter nas favelas e nas periferias, quadro pintado no famigerado "tropa de elite"... claro q a violência é apenas contida e espremida nas favelas, afinal um combate inteligente jamais será feito uma vez que o filho do dono d hotel cinco estrelas não pode perder seu fornecimento, isso quando ele próprio não se torna o traficante e assim forma-se um capital d giro pra incrementar um pouco mais o PIB... e é claro, a repressão é sempre mais lucrativa pros políticos e grupos de pressão compostos pro empresários da construção civil e armamentos pra erguemos presídios e "armarmos" nossa polícia... mas olha o mais absurdo... é tão óbvio, que ao invés de uma transformação, é conveniente pra sociedade varrer a sujeira pras favelas para que nossos belos cartões postais atraiam os turistas, ansiosos em grande parte por bundas a mostra e pelo turismo sexual impune citado por vc, que se forma um circo quando patológicamente a violência q era pra se limitar aos morros "escapam" para os calçadões vitimando uma potencial entrada de dólares para nosso querido país... e enquanto isso poucas notícias temos da guerra particular das favelas!!! Por isso discordo quanto ao exótico que atrai gente pra cá... na minha opinião o exótico em questão é unicamente o dos cenários naturais paradisíacos e da banalização do sexo barato... Porque ninguém, nem turistas, políticos, empresários ou membros da sociedade civil, contempla ou deixa de contemplar a pobreza, a miséria e a guerra... porque simplesmente tudo isso não existe pra gente... a arquitetura dos morros não passa de mais uma paisagem, a criança fazendo malabarismos, não passa d um show, a tortura não passa d um filme, as mortes não passam d números, enquanto ainda conseguimos varrer a violência pra margem... a gente joga tudo pra debaixo do tapete e reza pro cristo redentor nos proteger... é o esse o Brasil que não é levado a sério...
Tenho q dizer ainda q seu estilo, argumentação e ponto d vista que foge do lugar comum, me fez ler quase todos os artigos postados!! muito interessante a maioria deles e me deu uma vontade imensa d já colocar minha opinião um pouco discordante da sua e muitos aspectos... Então vou tomar a liberdade de mais tarde comentar seus artigos anteriores... e continue postando mais por aqui!!!