12 de janeiro de 2008

Diga-me com quem andas...

E agora sobrou para Kaká. A justiça quer interrogar o craque do Milan e da Seleção Brasileira por sua, digamos, estreitíssima relação com Estevam e Sônia Hernandes, proprietários da Igreja Renascer em Cristo. A informação é da revista Carta Capital desta semana. Os Hernandes são acusados de tantas coisas, mas tantas coisas que até fica chato enumerar o prontuário, como já fiz em artigo anterior. Basta saber que não é o tipo de gente a qual você venderia algo à prestação. A reportagem também diz que o jogador doa cerca de dois milhões de reais por ano à quadrilha Renascer em Cristo. Com a bola nos pés, um gênio, mas a cabeça parece de nada servir além de sustentar o cabelo. Assim digo por não ser do feitio do craque fazer muitos gols de cabeça.

Um comentário:

Anônimo disse...

Em primeiro lugar queria deixar a minha indignação que nossos promotores estejam perdendo tempo investigando a relação do Kaká com a Renascer! Ora, se esse promotor, que mais parece querer se aparecer com algum caso envolvendo alguma personalidade de relevância internacional, tivesse freqüentado as aulas de sociologia em sua faculdade de direito e tivesse maiores conhecimentos de cultura geral, veria que em qualquer comunidade religiosa existem pessoas que mensalmente deixam seu dízimo sem que isso se torne algum crime de "formação de quadrilha" ou algo do tipo. Assim, tratando-se de alguém milionário como o Kaká não há nada de suspeito em sua quantia dada anualmente e nem de sua relação com os pastores. Afinal, sendo o maior contribuidor dentre os fiéis é normal que seu relação seja minimamente estreita com os proprietários da igreja. A não ser que haja outras evidências, como gravações telefônicas, notas fiscais e movimentações bancárias do jogador que o ligue com atividades ilícitas da igreja, não há porque perder tempo com a relação do Kaká com sua igreja sendo que há tantas coisas mais importantes que o Ministério Público deve averiguar!
O que poderíamos discutir é como alguém tão instruído e aparentemente de caráter íntegro quanto o Kaká está fazendo em uma comunidade religiosa investigada por tantos escândalos. Concordo com você que não é algo muito racional. Por falar nisso achei muito inteligente e criativo a forma como você termina o texto o “não fazer gols de cabeça” hehe. Eu também tenho enormes desconfianças (pra não dizer repugnância) de tantas instituições religiosas que se aproveitam da fé alheia para enriquecer meia dúzia de líderes.
Mas vamos colocar um contraponto e criar uma empatia com o jogador para compreender melhor a situação... A fé se estabelece em uma relação de confiança, pela necessidade de uma elevação espiritual inerente ao ser humano - até um Ateu, lendo um livro de filosofia busca com isso uma transcendência metafísica criando um elo de confiança entre ele e sua própria mente - de forma completamente irracional entre a pessoa e o objeto dela. Porque acreditar em Deus se não termos comprovação científica nenhuma de sua existência? Porque doar dois milhões por ano para uma instituição só porque há uma prescrição em um livro que se sabe lá quem escreveu e quantos manipularam? Porque confiar que esses dois pastores são mesmos ungidos por Deus e são inocentes de todas as suas acusações? São questões sem repostas que os fiéis simplesmente creem, fazem, confiam... Ora quanta irracionalidade e ignorância, você pode estar pensando! Mas vamos mais a fundo. Observe que em primeiro momento essas perguntas são feitas em nível macrossocial.
Mas e se pensarmos em termos microssocial? Nossos relacionamentos do dia a dia? Bom, a não ser que sejamos aquele vilão da novela das oito que só estabelece relações maquiavélicas, estamos constantemente estabelecendo relações irracionais tanto quanto as primeiras. Porque amar tanto alguém, como por exemplo amamos nossos pais, namorados, amigos? Porque fazer as loucuras que fazemos, ou mesmo deixar renunciar uma parcela da gente para estarmos perto de quem a gente ama quando a pessoa precisa? Porque confiar nessas pessoas? A gente simplesmente ama, faz e confia... Ainda mais quando as evidências que buscamos para tornar uma pessoa confiável, merecedora de nosso amor e solidariedade é extremamente subjetiva e suspeita... Depois até nos arrependemos quando algo não der tão certo quanto esperávamos... Assim também, quando nos arrependemos de já ter tido fé em Deus, quando por inúmeras voltas da vida já a perdemos.
Por isso não o condeno por ainda ter fé naquela instituição e em Deus... A gente de uma forma ou de outra vive fazendo a mesma coisa... E na minha humilde opinião vale mais o caminho que a gente percorre do o lugar onde ele acaba. Então se o kaká está feliz, não se sente enganado e vive bem com a sua fé eu o admiro. Simplesmente por continuar ao lado do que ele acredita mesmo diante de tantas adversidades... Se o mundo todo me dissesse que a pessoa que eu mais amo e confio no mundo é um criminoso e essa pessoa me garantisse que não, eu ficaria do lado dessa pessoa... Agora se alguém me provasse, e prova é diferente de evidência, aí sim eu que não seria cúmplice de um crime.
O que mais me enoja não é a irracionalidade alheia, já que eu acho que ela faz parte da vida e em certas ocasiões chega a ser imprescindível, mas aqueles que se aproveitam dela e nos fazem perder a fé naquilo que amamos...