Apesar de discordar de várias de suas posições, há uma que me incomoda mais: as religiões. Vamos lá. Antes de qualquer coisa, é absolutamente irrelevante se Maomé pode ou não pode ser chamado de pedófilo devido ao contexto histórico em que ele viveu. Isso não me interessa nem um pouco. O que está em causa é que em minha opinião, errada ou certa, um homem que viola uma criança de menos de 10 anos é um pedófilo e fim de papo. Por acaso esse predicado se aplica ao fundador de uma religião que viveu antes do século X? Sim, paciência. É bem documentado que Maomé “coabitou” com Aisha quando esta era uma criança. Eu penso que boa parte dos países muçulmanos são estados bárbaros? Penso. Novamente, paciência. Acredito piamente que esse papo de encontrar virgens no paraíso é o mais puro e ridículo conto do vigário? Sim! Acho que levantar o traseiro cinco vezes por dia para rezar para uma ficção é idéia de jerico? Certamente sim. Vou deixar de dar minhas opiniões porque os aiatolás ficarão nervosinhos? Nem por um segundo! Estamos dando asas às cobras, vejamos os motivos:
Em 1989, o escritor indo-britânico Salman Rushdie teve sua morte decretada pelo então líder do Irã aiatolá Khomeini porque um romance da autoria de Rushdie teria ofendido o profeta Maomé. É assim: lá do alto do mirante um neandertal decreta a morte de um escritor ocidental e estamos conversados. Qualquer muçulmano que encontrar com Rushdie deverá matá-lo. Aliás, a fatwa é um decreto dado por uma autoridade religiosa e é bem possível que não se possa mais criticar a própria fatwa. Criticar o direito de aiatolás darem sentenças de morte por aí pode ser, quem sabe, violação dos direitos humanos. Mas continuando...
Em 2004, o cineasta holandês Theo Van Gogh foi morto em seu próprio país porque estava na altura produzindo um filme sobre a situação da mulher no islamismo. O cineasta foi assassinado por um muçulmano de origem marroquina que pelo visto não tinha gostado da idéia da película. Aliás, talvez o assassino tivesse razão hoje. Por que não classificar um filme que retrata a situação da mulher no avançadíssimo islã como uma violação aos direitos humanos?
Em 2005, e você já deve ter visto a imagem por aqui, a publicação de charges de Maomé por jornais dinamarqueses provocou a ira dos brutos! Como são bastante sutis, queimaram embaixadas e bandeiras de países ocidentais. Para os muçulmanos, o simples ato de publicar charges sobre Maomé já é denegrir a religião.
Ora, diante disso tudo, o que fazer? Censurar os veículos de comunicação de países ocidentais que ousarem criticar o islamismo? Punir por difamação religiosa quem o fizer? Aliás, o que define o que degrada ou não uma religião? Se for a opinião dos próprios crentes, no caso do islamismo é melhor nem tocarmos no assunto, já que qualquer coisa é ofensa. Ou seja, qualquer coisa irá gerar radicalismos. Isso coloca em dúvida se devemos colocar nas possíveis reações os limites do que podemos falar. Um simples romance já é suficiente para uma fatwa. Então tá. Essa é a cabeça dos aiatolás.
Os católicos, bem ou mal, parecem ter percebido que não é este o caminho. Quando o Monty Phyton lançou em 1979 um filme que colocava o próprio Cristo em situações vexatórias, a reação foi mais, digamos, civilizada. Aliás, devemos proibir a exibição do filme “A Vida de Brian”? O filme certamente denigre “símbolos” e “entidades”, visto que o próprio filho de Deus é tratado como um tonto.
Se alguém fizer uma crítica a uma religião para querer fomentar um debate, tanto melhor. Porém, caso outra pessoa queira simplsmente dizer que o papa é um “um ser humano inútil dirigindo uma instituição de merda”, não há porque proibir. Ah, é claro, os católicos ficarão muito nervosos. Mas dó mesmo eu tenho dos satanistas. Os coitados – já que resolveram adotar o lado negro da força – têm suas entidades sagradas xingadas e açoitadas há tempos. Ninguém fala nada.
No mais, em nenhum momento eu disse ser favorável a loucuras como entrar numa uma Igreja Universal proferindo impropérios contra o mercenário que está lá na frente. Tampouco fazer isso num centro de umbanda, num centro espírita ou em qualquer mercado da fé que o valha. Seria absolutamente ridículo e, claro, atrapalharia o próprio direito de culto. E pessoalmente estou me lixando para o que as pessoas adoram por aí. Deus, diabo, espíritos, entidades, símbolos, pessoas, antepassados, ETs, ideologias políticas ou qualquer outra coisa. Jamais irei a um culto umbandista dizer que aquilo ali é religião primitiva e tosca. Mas aqui eu digo: aquilo ali é religião primitiva e tosca. O Pai de Santo não gostou? Que toque um atabaque.
Com isso tudo, para reiterar, é bem difícil conectar o que não deve ser dito com o fator reações. O caso dos muçulmanos deixa isso bem claro. Qualquer coisa deixa os adoradores de Alá ofendidos. Logo, que não se critique mais o islã. Para eles, não existe muito esse papo de contexto. Não dá para atribuir a eles a relativa civilidade que temos aqui desse lado do globo.
Watson e o racismo
Achei sua posição bem razoável, apesar de não poder dizer que tenho essa confiança toda no judiciário. Talvez isso seja mal de mineiro. Desconfia de tudo. Se muitas vezes eu desconfio até dos meus amigos mais diletos, que dirá de instituições? Sei não, sei não. A minha posição é que se o trabalho científico não promover nenhum tipo de segregação, tudo bem. É evidente que algumas pessoas ficarão ofendidas. Assim como algumas mulheres ficam bastante ofendidas quando se diz que em atividades como dirigir, por exemplo, os homens costumam ser mais eficientes. Isso por causa de características naturais de cara gênero. Dizer que uma raça, por exemplo, em média, tem um índice de inteligência superior do que outra não deve, somente por isso, ser tipificada como racismo.
Até hoje, nunca ouvi falar de um caso de um asiático, ou alguém que defenda com tanto fundamentalismo a superioridade asiática no tocante a inteligência, que tenha usado tal tese para ofender as outras “raças” praticando o crime de injúria qualificada, ou induzindo e incitando a discriminação racial de “não asiáticos” recaindo na hipótese do racismo.
Pois é, mas pode acontecer. Assim como nem todas as pessoas que defendem a superioridade européia ou, sei lá, branca, no tocante à inteligência tem como objetico cometer crimes. Vamos com calma! E você sabe que se um incauto qualquer defender essa tese por aí, mesmo que não seja com intuito de promover segregação, será provavelmente achincalhado só pelo teor da idéia. Isso ocorre ainda em casos mais leves. Já vi gente que somente ousou elogiar a cultura e a beleza brancas ser acusado de nazista. Acho que o “subjetivismo” do julgamento pode ser bastante prejudicado por conta desse viés.
Por favor, me aponte o momento no qual falei
Calma! Não disse que você apóia a censura prévia às idéias de Watson. Se pareceu, desculpe.
Ora, o fato de causar um mal estar no outro indivíduo e até no circulo social onde tal frase é aplicada, ferindo a sua dignidade e à sua honra por causa da cor da sua pele não significa nada para você?
Significa, sim. Tendo até a te acompanhar um pouco no que você disse após colocar essa pergunta. Mas até agora não há um argumento que me demonstre que uma pessoa qualquer não possa dizer que simplesmente não gosta de raças ou tipos X ou Y. Coisa diferente é um dono de restaurante dizer, para impedir a entrada de um negro, que não gosta de negros. Supondo que, sei lá, numa pesquisa de opinião nas ruas, alguém responda a pergunta “você gosta de negros?” com uma negativa, é absurdo demais supor que o entrevistado deva responder por algo. Tem gente que não gosta de negros. Tem gente que não gosta de brancos. Tem gente que não gosta de índios e tem gente que não gosta de asiáticos. Fazer o que? Temos lá nossos preconceitos idiotas. E desde que não promovamos a violência e a segregação, fazer o que? Acho que nada.
Sobre o exemplo do rapaz que foi chamado de corno, que destempero, não? Não sei se concordo com as considerações do juiz. Tendo a achar que não. Posso estar errado, mas imagino que isso poderia relativizar outros crimes por aí. Mas não tenho opinião formada sobre tal. Só quero atentar para uma coisa: a tal subjetividade que você tantas vezes invoca pode não ser tão subjetiva assim. Pode ser bastante enviesada.
O comentário de Steven Pinker só foi para demonstrar que a noção de raça não é exatamente uma falácia. No seu comentário anterior você coloca a questão como se fosse uma bobagem já refutada há séculos, como a idéia de que o Sol gira em torno da Terra. E não é. Você pode até ficar com os cientistas que mais concorda, mas jamais vai poder usar um argumento de autoridade para provar tal tese. Só isso.
Será que todo comportamento é teleológico? Eu não vou ficar pensando em exemplos que desmintam a proposição que você citou. Mas será isso uma verdade? Pensemos no seguinte. Alguns estudiosos da epistemologia sustentam que as crenças não são passíveis de controle consciente. As, digamos, “crenças” que controlamos, podem ser chamadas de adesões. Suponhamos que uma pessoa age sob o efeito daquilo que ela não pode controlar ou aderir, podemos dizer que se trata de um comportamento teleológico, ou seja, que tem uma finalidade? Outra coisa que achei bastante curiosa foi sua compatibilização de ações ao mesmo tempo inconscientes e teleológicas. Não acho que uma ação inconsciente pode visar algo. Resumindo: se tudo fosse uma questão de adesão consciente, eu concordaria com essa tese. Mas há quem defenda que nem tudo é dessa forma, e isso, acho, compromete a visão teleológica que você apresentou. Pode ser verdade? Pode, mas acho que é algo bastante movediço para se fundamentar.
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