Eles são todos praticamente iguais. Com algumas diferenças de grau, excentricidade e autoritarismo, os líderes populistas de esquerda parecem seguir uma cartilha bem definida. Se é assim, Hugo Chávez aprendeu bem uma das lições fundamentais: infligir aos pobres venezuelanos horas semanais de discursos. A aporrinhação é feita pela TV. O presidente gosta de falar sobre tudo. Do divino ao humano, do físico ao metafísico. Para qualquer coisa o sábio tem resposta. E para tudo há um culpado: os Estados Unidos, obviamente. O grande dragão imperialista do norte é visto como uma espécie de Emmanuel Goldstein chavista.
Tudo muito óbvio, até aí. E nossos intelectuais e acadêmicos ficam de bico fechado. O homem está fazendo uma maravilhosa trilha em direção ao velho socialismo autoritário. Ou seja, está andando com vigor em direção a um passado que quase todo mundo quer esquecer. Silêncio dos "isentos" e azar dos venezuelanos. Mas se Chávez diz que se trata apenas do "socialismo do século XXI", a gente acredita. Não é, doutor Emir Sader?
Mais interessante e nada surpreendente é que, nesse tipo de governo, a expressão "newspeak", cunhada por George Orwell - traduzida em português por "novilíngua" - se faz tão atual quanto assustadora. Não há o menor respeito nem pela mentira. Leio no interessante blog de Janaína Figueiredo, do jornal O Globo, que Chávez colocou em prática uma tal Lei de Descentralização. O que faz a tal lei? Centraliza, é claro. A descentralização chavista concentra, por exemplo, nas mãos do governo central, o controle de portos e aeroportos, prejudicando bastante a economia dos estados.
Ainda fazendo aquela das pernas curtas corar de vergonha, Chávez adora dizer que seu país é um exemplo de democracia. Afinal, tudo passa pelo crivo popular. A democracia exemplar pôde ser demonstrada no ano de 2004. O caudilho aumentou de 20 para 32 o número de magistrados no poder judiciário. O aumento teve a clara intenção de criar uma maioria favorável aos ideais bolivarianos do homem. Aparelhar o judiciário é atitude bastante democrática. Recentemente, informa a blogueira de O Globo, o governo central tem investido contra os opositores, eleitos com a mesma democracia que colocou Chávez no poder. Um dos resultados dessa investida é a bizarra idéia de se criar um chefe de governo em Caracas, capital do país, para tirar Antonio Ledezma do poder. Ledezma é da oposição. Democracia?... Então tá.
E assim caminha a Venezuela. Uma descentralização que centraliza e uma democracia cada vez mais autoritária. O clássico 1984 jamais foi tão atual. Basta olhar para os nossos vizinhos vitimados, entre outras coisas, pelo estupro semântico de Chávez. Isso Paulo Henrique Amorim não vê.
Para saber mais: http://oglobo.globo.com/blogs/janaina/.
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