9 de novembro de 2009

Que não volte nunca mais

Nestes dias se comemora os 20 anos da queda do Muro de Berlim. A queda, de fato, mais do que a união entre um país até então dividido, significa o enterro definitivo (espero!) de alguns dos regimes mais autoritários já conhecidos. Em nome da libertação da classe proletária das amarras impostas por industriais e proprietários de terra, criou-se uma casta dirigente impenetrável que fez dos cidadãos prisioneiros por quase um século.

Como salientou Edmund Wilson, Karl Marx não considerou que os governos revolucionários, que seriam exercidos pelos antigos oprimidos e por seus líderes, pudessem repetir a brutalidade praticada pelos burgueses da época. Chegou a acreditar, sim, em uma, digamos, tirania justa (se é que isso é possível). "O governo que Marx imaginava para o bem estar e a elevação da humanidade (...) era um despotismo de classe exclusivista e implacável dirigido por manda-chuvas de elevados princípios que haviam conseguido transcender suas classes de origem, como Engels e ele", comenta Wilson.

O que se viu, porém, com o surgimento do caráter autoritário destes regimes, foi que o tal despotismo exclusivista e implacável resultou em opressão pura e simples. Mesmo assim, Marx acertou em quase tudo. Tivemos um despotismo de classe exclusivista. Era implacável. Era dirigido por manda-chuvas. Infelizmente, ele errou na parte dos "elevados princípios". Como se sabe, os manda-chuvas realmente gostavam de prender, torturar e matar. Princípios elevadíssimos.

De todo modo, e deixando de lado a velha desculpa que afirma ser o socialismo real bem diferente do "científico" - como se dialética hegeliana fosse ciência -, ficou provado que governos supostamente libertadores do povo foram e são, na verdade, meios eficientes de autoritarismo. Foi assim na União Soviética. Foi assim no Camboja. É assim na China (mesmo que em economia a conversa seja outra). É assim em Cuba e é assim na Coréia do Norte - estes dois últimos as derradeiras reservas ambientais onde ainda podemos observar, do mesmo modo que apreciamos um panda em seu habitat, o fenômeno do centralismo econômico.

É exatamente por isso que me arrepio todo quando vejo alguém falar em revolução socialista no Brasil. Nunca existiu socialismo e liberdade ao mesmo tempo e em um mesmo lugar. Não tenho muitas razões para pensar que por aqui seria diferente.

Mas agora é comemorar. É tempo de abrir um bom vinho e brindar a queda de um monumento que representou o autoritarismo, o centralismo e a repressão. O muro, quando veio abaixo de leste para oeste (coincidência?), ajudou a colocar uma bela pá de terra nas tiranias de esquerda. Faltam ainda algumas pás de terra. Se Deus quiser, virão.

Um comentário:

Rodrigo disse...

Quantos brasileiros podem abrir um bom vinho? Temos mesmo liberdade, ou apenas uma "ilusão" de liberdade, acompanhada de consumismo, comercialização de tudo, propaganda escancarada e falta de alternativas? Não estou tão certo que o socialismo tenha fracassado. O capitalismo, pelo visto, fracassou. E ambos mataram igualmente.